sexta-feira, 6 de abril de 2007

Ondjaki

ONDJAKI

Ondjaki nasceu em Luanda em 1977.

Cresceu em Luanda, onde fez os estudos até ao 10º ano. Desde então reside em Lisboa, onde tirou o curso superior de Sociologia.

Em Luanda, como diz Ondjaki, brincou “de cuecas na rua”, e sempre frequentou escolas públicas, onde o seu leque de amizades e companheirismos se revestiu das mais variadas pessoas, provenientes dos mais variados extractos sociais.

Começa a ler relativamente cedo, e passeia-se durante algum tempo pelos nomes secos de Graciliano Ramos, Sartre, Ionesco, vindo mais tarde a encontrar os latino americanos, como Vargas Llosa ou García Márquez. Ainda em Luanda, interessa-se por actividades teatrais, mas não chega a participar em nenhuma peça. Faz um curso de mímica pouco antes de vir para Portugal, e vai, aos poucos, aproximando-se do gosto pela interpretação teatral e a escrita.

Depois de estar dois anos num grupo de teatro amador, faz um curso livre de teatro e participa na peça «O futuro está nos ovos», curiosamente, um texto de Eugène Ionesco. Frequenta em Lisboa um curso de escrita criativa, que, segundo Ondjaki, “por ter encontrado um professor sério e comprometido com as magias da literatura”, foi um marco na produção dos seus textos. As idas constantes a Luanda alimentam o seu imaginário e as leituras efectuadas paralelamente fazem-no escrever.

Mais tarde ainda, descobre que “gosta de fazer experiências com o pastel”, e realiza em Luanda a sua primeira exposição individual de pintura (“Do Inevitável”). Alia às imagens textos poéticos seus ou de outros autores, “na necessidade de acompanhar as imagens de textos que as possam valorizar”. Vai compilando as suas estórias e reúne contos no que chamou de «Momentos de Aqui», livro que antes mesmo de ser publicado leva Ondjaki a S. Tomé, em 2000, para a final do prémio literário PALOP. Aí intensifica o contacto com o escritor e editor angolano Jacques Arlindo dos Santos, que o convida a participar na colecção Independência, preparada pela editora Chá de Caxinde. Em Janeiro de 2001 Ondjaki publica, nessa colecção, a obra «Bom dia Camaradas», com um linguajar repleto de expressões locais, e, como diz a escritora Ana Paula Tavares, “construído como um depoimento, este livro de Ondjaki assenta numa lógica narrativa de tessitura muito complexa.
A primeira pessoa serve-se das falas de todos e mais alguns para encontrar as suas coerências e consegue. Entre mil e uma palavras para morrer e ser morto os exercícios de crueldade que tão bem praticam as crianças.”
No ano de 2000, Ondjaki recebeu uma menção honrosa no prémio António Jacinto, com o livro de poesia «Actu Sanguíneu», e participado em antologias internacionais (Brasil, Uruguai), e na antologia «Angola – a festa e o luto». Actualmente, a par de continuar a escrever, Ondjaki colabora com o mensário angolano de cultura «O chá».
Escreve para cinema e co-realizouo documentário sobre a cidade de Luanda « Oxalá Cresçam Pitangas - Histórias de Luanda »
Em 2008 é-lhe atribuído o Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, da Associação Portuguesa de Escritores, pelo livro "Os da Minha Rua".

OBRA PUBLICADA

- Participação na antologia poética “Agua en el tercer milenio” (Edições Pilar e Bianchi Editores, 2000)
- Participação na antologia “Letras de Babel” com o texto «A Freira» (Edições Pilar e Bianchi Editores, 2000)
- Publicação da obra de poesia “Actu Sanguíneu” (menção honrosa no prémio António Jacinto, INIC, 2000)
- Publicação do texto «As respectivas cartas» na colectânea “Angola – a festa e o luto” (Edições Vega, 2000)
- Publicação da obra “Bom dia Camaradas” (Edições Chá de Caxinde, 2000) Luanda
- Participação na colectânea “Jovens Criadores 2000“, com «Cinco estórias» (Ed. Íman, 2001)

As obras de Ondjaki encontram-se traduzidas em francês, espanhol, italiano, alemão, inglês e chinês.


Momentos de Aqui (contos)
Junho 2001, 10,50€

Esta dependência da fabulação mergulha sempre na infância. Esse desejo de escrever não na página mas na própria voz - isso é vício que se retorceu em pequeno. E se reforçou num mundo cheio de oralidade. Felizmente, Ondjaki não se lavou dessa doença. Porque o que ele faz não é o simples deitar de uma história na página do livro. Mais do que isso: ele cria uma história para a nossa própria vida. Essa nossa vida que é a única e miraculosa fonte de acontecência. Se existe viagem é esta: percorrer as diferente fabulações de nós mesmos, contar essa maravilhações aos outros. E confessar, sem vergonha pública: olhe, eu estou sendo este. Mas já fui uns que morreram. Quem sabe serei quem, depois deste mim.

O Assobiador (novela)
Abril 2002, 8,40€

A infinitude do alcance daquele assobio resultava, certamente, de um também enorme conhecimento metafísico da arte de assobiar, que mexesse não só com o ouvido das pessoas, mas alcançasse, de modo incisivo, a profundidade das suas almas, o recôndito canto onde cada um escondia as suas coisas - essa assustadora gruta a que muitos chamam âmago do ser. As pessoas boquiabertavam-se, incapazes dos mínimos movimentos, comentários, vivências conscientes. Num tom menos exaltado mas com a mesma capacidade hipnotizante, cada um naquela praça sentiu uma mão invisível e assobiada entrar-lhe pela boca adentro, arranhando a garganta da alma, revolvendo as mais delicadas vísceras do passado. Em verdade, era um momento quase bruto, delicadamente bruto.

Há Prendisajens com o Xão (poesia)
Outubro 2002, 10,50€

Poema Chão palavras para Manuel de Barrosapetece-me des-ser-me;reatribuir-me a átomo.cuspir castanhos grãosmas gargantadentro;isto seja: engolir-me para mimpoucochinho a cada vez.um por mais um: areios.assim esculpir-me a barroe re-ser chão. muito chão.apetece-me chãonhe-ser-me.


Bom dia, Camaradas (romance)
2003, 8,40€

Infância é um antigamente que sempre volta.Este livro é muito isso: busca e exposição dos momentos, dos cheiros e das pessoas que fazem parte do meu antigamente, numa época em que angola e os luandenses formavam um universo diferente, peculiar. Tudo isto contado pela voz da criança que fui; tudo isto embebido na ambiência dos anos 80: o monopartidarismo, os cartões de abastecimento, os professores cubanos, o hino cantado de manhã e a nossa cidade de luanda com a capacidade de transformar mujimbos em factos. Todas estas coisas, mais o camarada antónio...Esta estória ficcionada, sendo também parte da minha história, devolveu-me memórias carinhosas. Permitiu-me fixar, em livro, um mundo que é já passado. Um mundo que me aconteceu e que, hoje, é um sonho saboroso de lembrar.

Veja AQUI entrevista de Ondjaki a uma televisão brasileira sobre "Bom dia, Camaradas".

Ynari. A Menina das Cinco Tranças (infanto-juvenil)
Ilustrações de Danuta Wojciechowska
Outubro 2004, 10,50€

Ynari é uma menina com cinco tranças e muita vontade de conhecer outras aldeias.Perto do rio, Ynari encontra um homem pequenino e descobre que a guerra também faz parte do mundo. Com a ajuda das suas cinco tranças, a menina vai mostrar que as crianças, com magia e ternura, podem mudar todas as aldeias e acabar com todas as guerras.Numa viagem de sensibilidade e sabedoria, com estrelas e cores, é possível inventar ou destruir palavras. Brincando com os sentidos da vida e da paz, Ynari redescobre uma palavra antiga cheia de uma magia nova: «amizade».

Quantas Madrugadas Tem a Noite (romance)
Maio 2004, 9,45€

Quantas Madrugadas Tem a Noite está destinado a ser um marco na literatura angolana e na literatura de língua portuguesa em geral. Com uma extraordinária mestria narrativa, Ondjaki conta aqui uma história em que não se sabe o que admirar mais, se a fulgurante imaginação do autor, se a sua capacidade para a criação de tipos e situações carregados de significado, se a sua capacidade para elevar a linguagem coloquial a um altíssimo nível literário. O humor, a farsa, o lirismo, a tragédia, o horror, todos estes sentimentos são aqui convocados e expostos, com a fluência de quem conta, simplesmente, uma história, na Luanda dos dias de hoje. Assim:«Num tenho dinheiro, num vale a pena te baldar. Mas, epá, vamos só desequilibrar umas birras; sentas aí, nas calmas, eu te pago em estória, isso mesmo, uma pura estória daquelas com peso de antigamente, nada de invencionices de baixa categoria, estorietas, coisas dos artistas: pura verdade, só acontecimentos factuais mesmo. A vida não é um carnaval? Vou te mostrar alguns dançarinos, damos e damas, diabo e Deus, a maka da existência.Transformo só o material pra lhe dar forma, utilidade. O artista molha as mãos pra trabalhar o destino do barro? Eu molho o coração no álcool pra fazer castelo das areias em cima das estórias...Uma noite, quantas madrugadas tem?»

E se Amanhã o Medo (contos)
Maio 2005, 6,30€
Prémio Literário Sagrada Esperança 2004
Prémio Literário António Palouro 2004

Quando retornou das abstinências do hipnotismo, encontrava-se já à mesa, tonta mas com uma sensação de aconchego no peito. Era, no fundo, o que trazia todas as pessoas àquele local: a magia de renovar o órgão primeiro, o bombeador de sensações, a casa mais íntima de um ser humano. — Não fale. Poupe as forças — disse o velho. Quando, no fim da refeição, voltou a fazer um chá, começou:— Leve isto consigo — entregou-lhe um pequeno aglomerado de folhas, escrito à mão num cuidadoso latim. — Vai servir-lhe para ser feliz! — E o que é? — a mulher, sensível, curiosa. — Todos os meus apontamentos sobre a sensibilidade dos porcos. O que é dizer: você é a primeira pessoa a levar um coração com o respectivo manual de felicidade.
Os da minha rua (estórias)
Março, 2007, 8,00€

"O teu livro dá conta de como crescem em segredo as crianças. É o milagre das flores do embondeiro: habitam o mundo em concha por breves momentos e vêem através da luz o milagre das pequenas coisas." Ana Paula Tavares

Excerto da obra:
"Há espaços que são sempre nossos. E quem os habita, habita também em nós. Falamos da nossa rua, desse lugar que nos acompanha pela vida. A rua como espaço de descoberta, alegria, tristeza e amizade. Os da Minha Rua tem nas suas páginas tudo isso. Como num filme, sempre me acontecia isso: eu olhava as coisas e imaginava uma música triste; depois quase conseguia ver os espaços vazios encherem-se de pessoas que fizeram parte da minha infância. De repente um jogo de futebol podia iniciar ali, a bola e tudo em câmara lenta, um dia eu vou a um médico porque eu devo ter esse problema de sempre imaginar as coisas em câmara lenta e ter vergonha de me dar uma vontade de lágrimas ali ao pé dos meus amigos. A escola enchia-se de crianças e até de professores, pessoas que tinham sido da minha segunda classe, da terceira... Quando alguém me tocava no ombro, as imagens todas desapareciam, o mundo ganhava cores reais, sons fortes e a poeira também."

ondjaki

AvóDezanove e o segredo do soviético
romance
Maio 2008, 12,90€
Veja AQUI a nossa leitura.

2 comentários:

Val Du disse...

Lita Duarte

É um prazer enorme ler as estórias que esse moço escreve.
Tem algo de doce e uma leveza que impressionam.
E isso se dá talvez quando penso em sua origem...Angola e seus conflitos.
Delicadeza que chega e dá seu recado sem rodeios.

DoxDoxDox disse...

Luis Falcão é grande grande grande.

PETALAS NEGRAS ARDEM NOS TEUS OLHOS vale tanto a pena.